quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Psicologia aplicada à alimentação

    
Apaixonar-se pela nutrição é apaixonar-se pela vida. A psicologia da alimentação desenvolveu pesquisas indicando a relação entre os hábitos alimentares e a personalidade, inclusive no campo de estudo dos transtornos da alimentação. 

Em todo momento, estamos introduzindo e digerindo em nosso corpo psíquico ideias, reações e emoções advindas do ambiente, mas a única forma de consubstanciar o ambiente ao nosso corpo material é por meio da alimentação. 

Um exemplo claro é o fato de que a anorexia deriva não somente de causas genéticas e emocionais, mas também da repulsa pelo mundo que cerca o paciente e do desejo de isolar-se do que ele ouve, sente e vê. Desejo que, não sendo alcançado psiquicamente, é então transferido para o meio material.

Da mesma forma, a vigorexia ou obesidade denotam a necessidade de proteção: o alimento, transformando-se em tecido, é o abrigo, o amparo na sua forma material . Na medida em que o paciente obeso adquire independência emocional e paternal, notamos que ele desenvolve naturalmente a capacidade de controlar sua ingestão alimentar e, assim, emagrece. Nota-se que indivíduos com maior autonomia e habilidade para relações interpessoais, aquelas nas quais há necessidade de ser flexível diante das situações sociais, são os que melhor se relacionam também com seus alimentos.

Sabe-se também que hipo ou hiperfagia (baixa e alta ingestão alimentar, respectivamente) nem sempre provêm da necessidade orgânica de comer exagerada ou insuficientemente. A quantidade de alimento que uma pessoa escolhe ingerir está estritamente ligada ao controle da sua própria vida – ou à falta dele. Observamos, desta forma, casos de pessoas mais controladoras e perfeccionistas que, diante de qualquer desequilíbrio ou tentativa frustrada de cumprir regras e planejamentos, vêm a desenvolver transtornos obsessivos, ortorexia (obsessão doentia pela alimentação natural) e, em casos mais graves, anorexia nervosa. 

Estes são apenas alguns das centenas de casos apresentados pela ciência. Eles exemplificam um fato curioso: o ser humano tem a necessidade inconsciente de materializar suas percepções e sua relação com o ambiente. É essencial, com isto, que o nutricionista busque uma análise refinada de seu paciente como um todo que une alma e corpo físico, uma vez que a psicologia considera ambos sendo apenas um. Tudo que é recebido pela alma é então refletido em nosso corpo físico, e vice-versa.

Enquanto testemunhamos muitos programas nutricionais serem aplicados sem sucesso, pacientes com transtornos alimentares são encaminhados a psicólogos e aprendem de forma voluntária a regular sua ingestão alimentar. Isto ocorre porque profissionais de nutrição frequentemente se apegam a regulamentos técnicos e estruturas químicas, desprendendo-se de valores profissionais importantíssimos como a sensibilidade e o aprendizado mútuo, sem os quais é impossível ter sucesso em qualquer planejamento alimentar. 

Quanto mais estudamos a nutrição, menos sabemos sobre ela. É preciso ter humildade para estar errado todos os dias, quando um estudo inédito que contraria todos os demais é publicado. É preciso sabedoria para assumir que a compreensão completa do organismo de um paciente está fora do alcance de qualquer ser humano. Compreender os hábitos alimentares de alguém implica em conhecer seu histórico de vida: a forma como, espiritualmente, ele se constituiu a partir de seu contato e experiências com o meio externo. 

Aprender com os pacientes todos os dias, e então perceber que quem está ali para ensinar são eles, e não nós. Mesmo que dominemos todo o conhecimento do mundo, ainda assim não seremos nada sem saber aplicá-lo.


Bibliografia consultada:


Campos, A. L. R. (1993). Aspectos psicológicos da obesidade. Pediatria Moderna, 29,129-133.


Kahtalian, A. (1992). Obesidade: Um desafio. Em J. Mello Filho (Org.), Psicossomática hoje (pp. 273-278). Porto Alegre: Artes Médicas.


Candy, C. M. & Fee, V. E. (1998). Underlying dimensions and psychometricproperties of the eating behaviors and Body Image Test for Preadolescent Girls. Journal of Clinical Child Psychology, 27, 117-127.


Alvarenga, M.; Scagliusi, F. B.; Philippi, S. T. NUTRIÇÃO E TRANSTORNOS ALIMENTARES: AVALIAÇÃO E TRATAMENTO. Ed Manole, 2010.


Um comentário:

  1. Adoreii Isa... qndo tiver mais tempo irei ler todos os post.. e dps t envio o meu novo blog. bjaoo

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