terça-feira, 25 de outubro de 2011

Jejum periódico e saúde cardiometabólica

"Estudo recente sugere que o jejum periódico é benéfico para a saúde cardiometabólica

Murray, UT (4/03/11) - O jejum tem sido associado a rituais religiosos, dietas ou ações de protesto. Novas evidências reveladas hoje por investigadores do Intermountain Medical Center Heart Institute demonstram que o jejum periódico pode também ser benéfico para sua saúde e para o seu coração.

A equipe relata que o jejum não só reduz o risco de doença coronária e diabetes, como também provoca alterações significativas nos níveis de colesterol no sangue. Tanto diabetes como colesterol elevado são fatores de risco reconhecidos para a doença cardiovascular.

A descoberta dá seguimento a um estudo de 2007 que revelou uma associação favorável entre o jejum e a redução de risco para doença coronária, a principal causa de morte entre homens e mulheres adultos. Neste novo trabalho, o jejum periódico parece reduzir outros fatores de risco cardíaco, como os triglicéridos, o peso corporal e os níveis de açúcar no sangue.

Os resultados foram apresentados hoje, 3 de Abril, nas sessões científicas anuais do Colégio Americano de Cardiologia a decorrer em New Orleans.

'Estes novos indícios demonstram que a nossa descoberta original não foi um acontecimento fortuito', diz o Dr. Benjamin D. Horne, PhD, MPH, diretor de epidemiologia e genética cardiovascular no Intermountain Medical Center Heart Institute, e investigador principal do estudo. 'A confirmação, num novo grupo de pacientes, de que o jejum está associado a um menor risco para estas doenças levanta questões sobre se o jejum reduz de fato o risco ou se ele simplesmente indica estilo de vida saudável.'   
     

       
Ao contrário da pesquisa anterior da equipe, este novo estudo registrou as reações em mecanismos biológicos do organismo durante o período de jejum. O LDL-C dos participantes (o "mau" colesterol) e o HDL-C ("bom" colesterol) aumentaram (14% e 6%, respectivamente), elevando os níveis de colesterol total, o que apanhou os investigadores de surpresa.

'O jejum provoca fome e stress. Em resposta, o organismo libera mais colesterol, permitindo-lhe utilizar a gordura como fonte de combustível, em vez de glicose. Isso diminui o número de células gordas no corpo', diz o Dr. Horne. 'Isto é importante porque quanto menos células de gordura o corpo tiver, menos provável será experimentar resistência à insulina ou diabetes.'

Este estudo recente também confirmou descobertas anteriores sobre os efeitos do jejum no hormônio do crescimento (GH). O GH trabalha para proteger a massa muscular e o equilíbrio metabólico, uma resposta desencadeada e acelerada pelo jejum. Durante períodos de 24 horas em jejum, o GH aumentou em média 1300% nas mulheres e quase 2000% nos homens.

Neste ensaio, os investigadores realizaram dois estudos paralelos em mais de 200 indivíduos, pacientes e voluntários saudáveis, recrutados no Intermountain Medical Center. Um outro ensaio clínico de 2011 seguiu outros 30 pacientes que beberam apenas água, sem ingestão de qualquer alimento por um período de 24 horas. Foram também monitorizados numa dieta normal, durante um período de 24 horas adicional. Foram realizados exames de sangue e retirados dados antropométricos para avaliar todos os fatores de risco cardíaco, marcadores de risco metabólico e outros parâmetros gerais de saúde.

Embora os resultados tenham sido surpreendentes para a equipe, ainda é cedo para começar uma dieta de jejum. Serão precisos mais estudos como este para determinar a reação do corpo ao jejum e os seus efeitos sobre a saúde humana. Dr. Horne acredita que o jejum pode um dia ser prescrito como tratamento para a prevenção da diabetes e doenças cardiovasculares.

Para ajudar a alcançar o objetivo do estudo, a Fundação Deseret aprovou recentemente um novo financiamento para avaliar mais fatores de risco no sangue, utilizando amostras armazenadas deste referido ensaio. Os investigadores também irão incluir um estudo adicional de jejum entre os pacientes que foram diagnosticados com doença coronária.

'Estamos muito gratos pelo apoio financeiro da Fundação de Deseret. A organização e os doadores têm tornado estes estudos revolucionários possíveis', acrescentou Horne."

Este é um dos inúmeros estudos que sugerem os benefícios do jejum. Recentemente, tenho andado muito interessada pelo protocolo IF (intermitent fasting), e pesquisado a respeito. O que surpreende no jejum intermitente é que, segundo vários estudos, ele não é benéfico só para atletas, mas inclusive para pessoas que buscam qualidade de vida. Friso, no entanto, que antes de ser aplicado ele deve ser muito bem planejado e moldado de acordo com cada caso específico.
Aproveito para agradecer a todos que estão seguindo o blog.
Um abraço!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Fit Fotos


Carla Torres - Campeã de Bodyfitness do Campeonato de Estreantes IFBB 2011
http://fitfotos.blogspot.com/

Oi pessoal!

Estamos na temporada de campeonatos paulistas e brasileiros de culturismo pelas federações Nabba e IFBB. Esse período é o fim de uma longa jornada de preparação para inúmeros atletas, na busca de mais um título e, acima disto, de mais uma grande realização pessoal. Para quem está de fora dos bastidores, é sempre prazeroso acompanhar o progresso dos competidores e a estréia de novos atletas, alguns extremamente talentosos.

Na divulgação das categorias femininas do bodybuilding, o fotógrafo e artista plástico Marcello Dezallez, especialmente interessado em fotografar as atletas em backstage, merece destaque. Seu excelente trabalho é sempre bem-vindo por nós, atletas, e agradeço a ele por incentivar de uma forma tão bela a divulgação do esporte. Você pode acompanhar o registro fotográfico destes e de outros campeonatos através deste maravilhoso trabalho, pelo link http://fitfotos.blogspot.com/

Vale lembrar que a primeira etapa do campeonato Brasileiro pela IFBB acontece no próximo fim de semana no Rio de Janeiro e conta com a apresentação das atletas da categoria Wellness e Bodyfitness. Vale à pena acompanhar!

Um abraço,

domingo, 24 de abril de 2011

The primal blueprint: Parte 1

Todos aqui devem saber o quanto é difícil mudar o saber popular. Não é diferente na nutrição. Apesar de ser uma ciência dinâmica baseada especialmente na prática, as pessoas ainda preferem tratá-la como saber popular e acreditar nos livros velhos de fisiologia. Os atletas em especial têm a necessidade de testar novas práticas alimentares visando à melhora do seu desempenho, afinal, sabe-se que uma tática eficiente, superior e singular aliada à boa aceitação pelo organismo pode promover melhoras estéticas e até mesmo fazer um campeão nos palcos. Estas medidas, por sua vez, muitas vezes também são úteis para não-atletas, podendo ser aplicadas com sucesso até mesmo em pessoas que não fazem atividade física. Dois grandes exemplos práticos disto são a dieta metabólica e o jejum intermitente, cuja adesão tem sido grande nos últimos anos, e os casos de sucesso vêm aumentando.

Diante disto, venho hoje falar sobre novas práticas preconizadas por Mark Sisson no seu livro “The Primal Blueprint”. Esta espécie de dieta veio ao conhecimento do brasileiro através do termo “vida primitiva” e ainda é pouco conhecida. Hoje, no entanto, recebi um email contendo alguns tópicos relativos a ela e tive a oportunidade de pesquisar, superficialmente o modo de vida alimentar inspirado nos hábitos do homem primitivo.



Acredito que um dos grandes erros da nutrição “comum” é estabelecer como base da pirâmide alimentar os carboidratos. Por mais que trabalhemos com carboidratos integrais, estamos, ainda assim, trabalhando diretamente com o metabolismo da insulina e permitindo que o período de saciedade, por conta do seu pico, seja menor. A meu ver, prescrever uma dieta composta por 60% de carboidratos diante da epidemia de diabetes que estamos vivendo nos dias de hoje é extremamente incoerente.

A pirâmide alimentar divulgada por Sisson tem na sua base os vegetais e frutas, preferencialmente orgânicos, seguidos por proteínas (carne, ovos, peixes), óleos e sementes e, por fim, no topo da pirâmide, especiarias, ervas e suplementos.  Perceba que os grãos são banidos totalmente da composição da pirâmide. Segundo Mark, eles são desnecessários. Por conter muito mais carboidratos que as hortaliças, os grãos, quando consumidos em altas quantidades, levam ao excesso da produção de insulina e armazenamento de gordura e, desta forma, são facilitadores do desenvolvimento de cardiopatias. São alergênicos e imunossupressores (reduzem a capacidade de defesa do organismo), e, por meio do excesso de fibras, podem perturbar o sistema digestivo. Tudo isto já foi, inclusive, comprovado por diversos estudos.

The primal blueprint: Parte 2


A ingestão de gordura animal é o ponto seguinte abordado pelo livro. Segundo o autor, ela deve ser a maior fonte de calorias da dieta. Sua relação com doenças cardiovasculares é mínima. Ela promove o metabolismo eficiente de gorduras (já se sabe que dietas pobres em gorduras prejudicam a capacidade do organismo em utilizar gorduras, facilitando seu armazenamento), auxilia no controle de peso e promove também a saciedade. Venho mais uma vez mencionar o pico de insulina. Carboidratos são digeridos com mais facilidade e em menos tempo que os demais macronutrientes, o que implica no comprometimento da sensação de saciedade. O mesmo não acontece com as gorduras. Além do mais, a gordura da dieta não é mais rotulada como a vilã das cardiopatias. Já foi comprovada a associação do desenvolvimento de doenças cardiovasculares à síndrome metabólica, causada pela deficiência de ômega-3 e pelo excesso de carboidratos na dieta. O colesterol presente nos produtos de origem animal, da mesma forma, tem pouca ou nenhuma relevância para o risco de doença cardíaca.

Uma dieta baseada em grãos, segundo Mark, também poderia trazer malefícios ao trato gastrointestinal. Isto ocorre porque as fibras em excesso constituem fatores antinutricionais, o que significa que, por aumentarem significantemente a velocidade do trânsito intestinal, carregam consigo alguns nutrientes importantes (especialmente minerais como ferro e cálcio) que, desta forma, não podem ser absorvidos pelo intestino. Conforme a dieta primitiva, frutas e hortaliças seriam suficientes para suprir as necessidades diárias de fibra dietética do nosso organismo sem causar excessos.

A adesão às dietas de baixo carboidrato tem aumentado muito nos últimos anos, especialmente entre atletas, principalmente pelo reconhecimento do benefício que ela traz ao organismo de reeducar-se quanto ao metabolismo de gorduras. A diminuição de força e de disposição não é verificada após a adaptação à dieta. Muitos relatam preservação da massa magra associada à redução do percentual de gordura ao reduzir drasticamente a ingestão de carboidratos.

As leis primais vão muito além dos hábitos alimentares. O livro traz também hábitos de vida ligados a exercício físico, estresse, exposição ao sol e utilização de remédios. Segue o link do blog “Vida Primal – Retomando velhos hábitos para viver melhor”, onde você pode conhecer mais sobre o assunto.


Boa Páscoa e até a próxima!

terça-feira, 5 de abril de 2011

Abacate: Valor nutricional e atividade ergogênica



Um dos grandes interesses da ciência da nutrição no campo bioquímico é o estudo dos fitosteróis, conhecidos também como hormônios vegetais. Muitos de vocês devem conhecer um exemplo muito popular da aplicação destes compostos na medicina moderna. São os fitoestrógenos presentes na soja, cuja ingestão colabora para o equilíbrio hormonal feminino dado pela capacidade que estes fitormônios têm de imitar os estrogênios produzidos por nós, atuando de forma semelhante a eles no organismo.
Da mesma forma, existe um hormônio vegetal de estrutura química similar ao colesterol especialmente interessante para desportistas. É o beta-sitosterol, um composto encontrado no arroz, no germe de trigo, no milho, na soja e, em sua concentração máxima, no abacate. Além de um potente anti-inflamatório, o beta-sitosterol tem atividade moduladora do sistema imunológico, reforçando o organismo no combate a fungos, bactérias e vírus através da sua ação positiva no aumento da proliferação e da atividade das nossas células de defesa. Desta forma, ele constitui também um agente supressor do câncer e do HIV.
Obviamente, a estabilidade imunológica é essencial no rendimento de um atleta, mas há benefícios funcionais ainda mais interessantes no consumo do beta-sitosterol. Este composto vegetal é também responsável pelo aumento dos níveis de testosterona endógena, sendo o princípio ativo do Saw palmeto e do Pygeum africanum, por exemplo, vendidos em casas de produtos naturais como ergogênicos eficazes para desportistas. Ele atua especificamente sobre o fígado, inibindo a enzima que converte a testosterona a dihidrotestosterona (DHT). O DHT age promovendo efeitos indesejados como calvície e acne, além de se ligar ao mesmo receptor hormonal da testosterona, impedindo, assim, que ela se una a ele e atue satisfatoriamente no organismo. O beta-sitosterol, desta forma, liberta mais receptores para a testosterona se ligar e agir, o que otimiza os efeitos da mesma.
Estudos demonstram, da mesma forma, o efeito antiestrogênico do beta-sitosterol, especialmente aplicável a atletas que desejam reduzir os malefícios típicos da ação dos hormônios femininos, tais como retenção hídrica, aumento de peso e ginecomastia. Este mesmo efeito é benéfico nos casos de câncer de mama e útero, quando a proliferação das células do tumor é alimentada pelo estrogênio. Além disto, o beta-sitosterol também se mostra interessante no combate ao câncer de próstata quando reduz os níveis de DHT, uma vez que este hormônio, ao se ligar aos receptores androgênicos, causa hiperplasia prostática (aumento do número de células da próstata) e possibilita o aparecimento do tumor.
As aplicações do beta-sitosterol no organismo são muitas. O consumo de abacate, além disto, não é benéfico apenas na manutenção dos bons níveis hormonais e na prevenção da carcinogênese. Este fruto, dentre todos, é também o mais rico em glutationa, um antioxidante que exerce inúmeras funções fisiológicas como o metabolismo da vitamina C e a proteção do fígado. Ele contém quantidades significantes das vitaminas A e E, também antioxidantes e conhecidas pelo seu poder anti-envelhecimento. As gorduras monoinsaturadas do abacate, em conjunto com o beta-sitosterol, atuam, por sua vez, na proteção cardiovascular, uma vez que conseguem equilibrar eficientemente os níveis de colesterol plasmático.
Tantos benefícios em um único alimento mostram que o consumo regular do abacate certamente contribui para a saúde do atleta. Por conter alto valor energético, ele é indicado especialmente em dietas de ganho de peso. Pode, no entanto, ser usado com moderação em dietas hipocalóricas, já que é capaz também de promover a saciedade.
Fica aí mais uma dica de consumo. Espero que tenham gostado!

Bibliografia consultada:

  • Valette, G. and E. Sobrin, Pharm Acta. Helv. (1963)
  • UCLA Centre for Human Nutrition - California
  • Encyclopaedia of Chemical Technology, Vol.7, p. 153, edited by Kirk Othmer, John Wiley & Sons, New York, 1979
  • Rique, A., Soares, E., Meirelles, C. Nutrição e exercício na prevenção e controle das doenças cardiovasculares. Rev Bras Med Esporte vol.8 no.6 Niterói Nov./Dec. 2002

terça-feira, 22 de março de 2011

O IMC é uma medida confiável? - Parte 1

Caros leitores. Hoje pretendo fazer um alerta sobre uma medida de avaliação que a maioria de vocês deve conhecer. Trata-se do IMC, o índice de massa corpórea, aplicado por nutricionistas e, mais recentemente, até mesmo por médicos, para avaliar a saúde do paciente em termos de peso ideal. O IMC é calculado dividindo-se o peso pela altura ao quadrado. Sugere-se, então, que o resultado deste cálculo indique se o paciente está acima, abaixou ou dentro da faixa de peso adequada para sua altura. Mais que isto, o IMC parece mostrar qual o grau de baixo peso ou obesidade do paciente, se este for constatado e, ainda, que riscos esta alteração de peso ideal pode trazer à saúde do indivíduo. Na figura abaixo, apresentam-se as possíveis faixas de IMC e a situação de saúde a que cada uma delas se associa conforme Lambert Quételet, que desenvolveu estes cálculos no fim do século XIX.




Um exemplo de cálculo de IMC seguido pela avaliação rápida do resultado é dado a seguir:





A rapidez e a praticidade do procedimento de cálculo do IMC são inquestionáveis. Enquanto outros métodos de avaliação mais complexos costumam exigir horas de trabalho e recursos financeiros claramente inacessíveis à maioria dos segmentos da população, o índice de massa corpórea leva minutos para ser estipulado e exige apenas uma calculadora. Hoje em dia, vejo médicos e empresas de alimentos fornecendo aos seus clientes um círculo de papel contendo, ao seu redor, todas as faixas de altura e peso existentes numa população. Associados através de uma seta ajustada no interior do círculo, eles fornecem imediatamente o IMC do paciente, o que elimina, por sua vez, a necessidade de cálculo.

Tanta facilidade desperta o fascínio de muitos. Seria prático e maravilhoso mexer numa setinha de um círculo de papel e, em questão de segundos, informar-se a respeito da sua própria situação de saúde, sendo alertado pelas aparentemente “bem-intencionadas” indústrias de alimentos e profissionais de saúde, mais uma vez, aparentemente “bem-intencionados” quando se trata dos riscos gerados pelo baixo peso ou pelo seu excesso.

Antes de mais nada, porém, friso a importância de tomarmos consciência de que, no procedimento de avaliação corporal de um indivíduo, todo e qualquer método aplicado apresenta falhas e desvios, desde o IMC, o mais barato e simples de todos, até os mais complexos e caros. A complexidade de um método de avaliação pode aumentar a precisão dos resultados e garantir, desta forma, que o diagnóstico seja aplicado da melhor forma possível, e é nisto que muitos nutricionistas trabalharam durante anos a fim de proporcionar segurança no tratamento dos seus pacientes. O IMC, por sua vez, ao promover comodidade, elimina também as chances de exatidão do resultado final, o que prejudica sua firmeza na questão da precisão e distorce facilmente o diagnóstico. E como isto ocorre?

A base para a ausência de fidedignidade do IMC estabelece-se no fato de que ele usa como dado principal o peso do indivíduo, eliminando o dado “composição corporal”. Isto significa que se uma pessoa, por exemplo, é diagnosticada pelo IMC como saudável (estando na faixa entre 18,5 a 24,9 pontos) e tem alto índice de gordura, compensado no peso pelo baixo índice de massa magra, ela ainda assim será uma pessoa com má composição corporal identificada como saudável, o que, por sua vez, impossibilita a intervenção do profissional na orientação de controle alimentar e prática de atividade física como tentativa de modificar os percentuais de gordura e massa muscular do indivíduo, tornando-o uma pessoa menos susceptível, em longo prazo, à incidência de doenças metabólicas.

Este é só o começo da lista de argumentos que coloca definitivamente o IMC na lista de métodos de avaliação física ultrapassados. Ele é tão falho que ultimamente tem sido eliminado da rotina de avaliação de nutricionistas, pois, segundo eles, é apenas “perda de tempo” em meio a tantos caminhos novos e eficazes de avaliação. Médicos e empresas de alimentos ainda divulgam em massa o método do IMC. Por trás disto, não existe apenas ignorância científica, mas também interesses ligados à facilidade com a qual se pode convencer uma pessoa de que ela não precisa de tratamento nutricional, mas apenas medicamentoso. Além do mais, pessoas referidas como portadoras de sobrepeso são o alvo das indústrias alimentícias, frequentemente afinadas com a venda de produtos light e com a divulgação da imagem da magreza como verdade oficial.

O IMC é uma medida confiável? - Parte 2

A Revista Pública de Saúde publicou, em 1992, uma importante pesquisa relacionando os valores de IMC ao risco relativo do desenvolvimento de tuberculose, cânceres, diabetes e AVC. Para tal, uma amostra da população norueguesa foi acompanhada durante dez anos e registrou-se o IMC de cada indivíduo em determinada época, acompanhado do registro do estado de saúde do mesmo. Com isto, foi possível fazer uma associação registrada no gráfico abaixo.



Note que, para a surpresa dos fiéis seguidores da prática do cálculo do IMC, o risco de desenvolvimento de doenças graves foi especialmente encontrado em indivíduos com IMC inferior a 22, dobrando nos casos em que o IMC era inferior a 18. O peso ideal, livre de complicações, foi dado pelo estudo como aquele que fornecesse, através do cálculo do IMC, a faixa entre 22 e 33 pontos, considerada “sobrepeso” pelos padrões comumente divulgados.

Este fato indica, mais uma vez, a existência de marketing alimentício refletido na venda da informação de que o peso saudável relaciona-se com IMC inferior a 25.

Para concluir, enfatizo a importância de tomar como base dados pessoais como a qualidade da dieta e a freqüência de atividade física do indivíduo para o diagnóstico da saúde do mesmo. O “peso ideal” é completamente independente do IMC e pode ser facilmente determinado pela faixa de peso que o paciente mantém com facilidade em estado de saúde e bem-estar, alimentando-se adequadamente e exercitando-se conforme recomendação profissional.

Bibliografia consultada:
Anjos, L. A. Índice de massa corporal (massa corporal.estatura-2) como indicador do estado nutricional de adultos: revisão da literatura. São Paulo, 1992.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Ciclando com carboidratos - Por Rodolfo Peres

Ciclando com carboidratos visando melhora na definição muscular

Reduzir a gordura corporal sem sacrificar a massa magra é o desejo de muitos, mas alcançado por poucos. É muito comum alguém obter grandes ganhos de massa magra e ver esses ganhos desaparecerem no momento de realizar uma dieta visando definição muscular. Como sempre afirmamos, não existe “receita de bolo”, pois a individualidade biológica deve sempre ser respeitada. Algumas pessoas conseguem perder gordura corporal facilmente, enquanto outras aumentam a massa muscular sem dificuldades, e por aí vai.      
Neste artigo iremos apresentar uma estratégia que vem funcionando há anos com atletas de bodybuilding de alto nível e pessoas que levam seu treinamento a sério. Este método tem por objetivo reduzir ao máximo a gordura corporal, mantendo a massa magra e preservando a capacidade de treinamento. Não é uma técnica apropriada para iniciantes, mas sim para aqueles com o treinamento devidamente ajustado e acompanhado por profissionais competentes.
É fato que uma baixa ingestão de carboidrato associada com uma adequada ingestão protéica e lipídica, auxilia consideravelmente a redução de gordura corporal. No entanto, esta prática quando realizado ao longo de alguns dias, promove fadiga em excesso (reduzindo a eficiência dos treinamentos), irritabilidade, dificuldade de concentração, além de perda de massa magra. Um outro grande problema quando se mantém constantemente o carboidrato baixo é a redução do metabolismo basal, o que proporciona uma queda na taxa de queima de gordura.
Por outro lado, se mantivermos o carboidrato mais elevado, teremos grande energia para treinar, sensação de bem-estar, mas em compensação, a redução da gordura corporal seria prejudicada (salvo aqueles indivíduos com metabolismo privilegiado).
Nos restaria, portanto duas opções: uma ingestão moderada de carboidratos ou a realização de “ciclos” nos quais varia-se a quantidade de carboidrato diariamente na dieta.
Costumo trabalhar com três dietas diferentes ao longo da semana. Primeiro, estipulo o valor calórico a ser consumido e divido as calorias da seguinte forma: uma ingestão relativamente elevada de carboidratos (50%), moderada de proteínas (35%) e baixa de gorduras (15%); uma ingestão moderada de carboidratos (20%), alta de proteínas (55%) e moderada de gorduras (25%); e uma ingestão baixa de carboidratos (10%), alta de proteínas (55%) e alta de gorduras (35%). Vale lembrar que esta estratégia tem por objetivo uma melhora estética. Logicamente quando se objetiva melhora da performance, principalmente em atividades de endurance, esta proposta torna-se totalmente inviável, pois a ingestão de carboidrato entre 55 e 65% das calorias totais seria necessária.
Agora resta distribuir essas três diferentes dietas ao longo da semana. Como fazemos isso? De acordo com a intensidade do treinamento! Prefiro estabelecer dois dias para o carboidrato alto, normalmente nos dois dias de treinamento mais intensos, como pernas e dorsais. Três dias de carboidrato moderado para os demais dias de treinamento e outros dois dias de carboidrato baixo para os dias de descanso ou nos dias em que se realiza apenas atividade aeróbica.
Portanto, para o sucesso de um programa como este, a interação entre treinador e nutricionista deve ser perfeita. Lembrando que a dieta deve garantir condições para que o indivíduo realize seus treinamentos na devida intensidade.
Nos dias de carboidrato moderado e baixo, uma sugestão seria distribuir a quantidade de carboidratos desses dias em três refeições: refeição #1 (desjejum), refeição pré e refeição pós-treino. Também nesses dias, vale ressaltar que a ingestão lipídica deve provir na maior parte de fontes mono e poliinsaturadas.
Em paralelo ao ajuste dos macronutrientes, como exposto acima, precisa-se ter atenção quanto à ingestão de vitaminas, sais minerais, fibras, água, além da correta suplementação. Dentre os diversos suplementos que podem ser utilizados neste período, os aminoácidos de cadeia ramificada (BCAAs) merecem uma atenção especial. Além de ser uma ótima opção nos momentos pré e pós treino, em alguns casos seu uso parece ser interessante também no desjejum, logo antes de dormir e durante os treinos.
Deste modo, mais uma vez observamos a necessidade do acompanhamento com um nutricionista esportivo associado ao treinador para garantia de resultados satisfatórios.

Rodolfo Peres
Nutricionista esportivo- CRN8-2427. Assessora fisiculturistas de nível internacional. Ministra cursos em todo o Brasil sobre nutrição esportiva aplicada à musculação e é autor do livro “Guerra Metabólica”.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Ingerir ou não a gema do ovo?


Quem lê as pesquisas recentes sobre este alimento já percebeu que ele foi totalmente desmistificado. Aquela velha história do colesterol alto não é a maior das verdades. Hoje um amigo me perguntou sobre isso, questionando quais benefícios e prejuízos a gema do ovo poderia oferecer, o que me inspirou a escrever um pouco sobre esta fonte rica de ferro, ácido fólico e vitaminas do complexo B, um coquetel “anti-anemia” que cuida também do sistema nervoso e da memória. A saber, a cor “amarelo vivo” da gema é dada pelo corante natural alaranjado conhecido como carotenóide, um precursor da vitamina A, tão conhecida pelas suas funções na saúde dos olhos, pele e cabelos.

Como se não bastasse a riqueza nutricional da gema, ela também contém colina, um composto presente nas membranas que encapam nossas células, e contido no neurotransmissor acetilcolina, um mensageiro químico responsável pela transmissão do impulso nervoso nas células musculares. Ou seja, a perfeição do movimento muscular depende desta substância formada no organismo humano! Além disto, a ingestão de colina é essencial na gravidez, quando atua na boa formação do cérebro do bebê.

Mas e a história do colesterol, onde fica? É fato que a gema é rica nesta substância. Nosso organismo, porém, está apto a regular perfeitamente nossos níveis colesterolêmicos. Quando a sua ingestão é muito baixa, produzimos, consequentemente, uma quantidade maior de colesterol, e vice-versa. Fatores como hereditariedade, estresse e obesidade oferecem muito mais risco à saúde do coração do que o colesterol vindo da dieta. O temido “colesterol alto”, desta forma, pode ser evitado com a ingestão de alimentos ricos em fibra, como a aveia, e gorduras insaturadas presentes nos óleos vegetais e sementes oleaginosas.

Além disto, este esteróide também tem sua função no organismo. Ele é necessário para fabricar hormônios como a testosterona, “produzir” a vitamina D (que também é produzida por nós durante a exposição à luz solar) e construir as paredes das células. Sabendo disto, você deixaria de ingerir alimentos ricos em colesterol, um participante essencial da regulação dos níveis da testosterona?

Também é importante considerar que outra substância contida na gema do ovo, a lecitina, é capaz de ligar-se ao colesterol eficientemente, impedindo que ele seja totalmente absorvido pelo organismo. No nosso corpo, a lecitina está contida na medula óssea, no cérebro, no fígado e no coração e é inevitável para o bom funcionamento do sistema nervoso. Além de auxiliar a concentração, ela é um agente anti-colesterolêmico, sendo, portanto, conhecida como uma importante protetora do coração.

Depois desta leitura, é possível, então, reavaliar o perfil da gema do ovo e constatar que ela saiu da lista de alimentos inimigos do coração e alcançou um dos lugares mais importantes no grupo de alimentos com propriedades protetoras.

Quer manter a memória em dia e prolongar sua saúde mental? Coma um ovo inteiro pelo menos três vezes por semana! Atletas, em especial, podem e devem seguir à risca esta dica.

Deixo um grande abraço nos leitores do meu blog e obrigada por lerem, comentarem, e sugerirem novos assuntos. Isto é muito importante pra mim! :)

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cálcio e biodisponibilidade: Parte 1


Inicio agora o texto de um assunto que merece destaque na dieta do atleta: o cálcio. Este mineral é conhecidíssimo por sua importância na saúde dos ossos e dentes, mas muitas curiosidades sobre ele ainda são desconhecidas pela maioria das pessoas.
No organismo, o cálcio atua no sistema nervoso, regula a imunidade e a pressão arterial, promove a contração muscular (no processo que chamamos de sinalização celular) e participa da coagulação sanguínea. Tomando algumas medidas simples aplicadas aos hábitos diários é possível garantir que o organismo absorva melhor e mantenha níveis estáveis deste mineral, o que contribui, em longo prazo, para a saúde do organismo todo, e não só dos ossos, como muitos pensam!
Em princípio, cabe ressaltar que o cálcio é o mineral mais abundante no corpo humano. Uma pessoa de 70kg chega a ter 1kg dele distribuído no próprio organismo, do qual 90% encontra-se nos ossos na forma de uma reserva que sofre variação constante numa troca com o sangue e com os tecidos. A ingestão deste macromineral em níveis adequados durante a vida toda assegura que os ossos estejam adequadamente densos até a velhice, quando a perda de massa óssea se inicia e pode comprometer a firmeza do esqueleto, causando dor e, em casos mais graves, osteoporose. É recomendado que até os 24 anos de idade estejamos atentos a fatores que propiciem a melhor absorção e fixação do cálcio nos ossos. Desta forma, garante-se que, durante toda a vida e, inclusive após a velhice, nossa estrutura óssea esteja bem formada e resistente a complicações fisiológicas. A atividade física de impacto, por exemplo, em associação com a boa alimentação, é uma medida eficiente para a boa fixação do cálcio. Portanto, corra e caminhe com freqüência. Seus ossos agradecem!

Cálcio e biodisponibilidade - Parte 2

A respeito da recomendação diária de consumo de cálcio, sabe-se que ela varia conforme o sexo, a faixa etária e o nível de atividade física do indivíduo. Este valor, portanto, não é fixo durante toda a vida, mas consideravelmente variável conforme a fase que se está vivendo. A faixa de recomendação para adultos varia de 800 a 1200mg diários, o que equivale, por exemplo, a 4 a 6 copos de leite ou iogurte. Lactantes, gestantes e atletas requerem valores mais altos. Dois dos sintomas clássicos da deficiência de cálcio são a câimbra muscular e a gengivite, esta última principalmente comum em mulheres grávidas que ingerem quantidades muito baixas deste mineral.
É comum encontrar vegetarianos com deficiência de cálcio no organismo. Isto não ocorre apenas pela ingestão limitada de laticínios, uma vez que estes podem ser substituídos por alimentos de origem vegetal (brócolis, couve-flor, soja e amêndoas, por exemplo) com sucesso. O interessante é que, apesar de conterem bem menos cálcio que os produtos de leite, os vegetais oferecem a vantagem de ter aproximadamente 50% deste mineral aproveitado pelo corpo humano, comparados a apenas 30% de aproveitamento do cálcio vindo dos laticínios. O que ocorre é que a ingestão acentuada de grãos integrais e feijões aumenta consideravelmente os níveis do mineral fósforo no organismo. Sabe-se que cálcio e fósforo oscilam de forma inversa: quando o nível de um deles sobe demais, o nível do outro obrigatoriamente abaixa.
É dever do nutricionista, com isto, orientar o paciente para que o consumo do cálcio seja associado a hábitos que permitam que ele seja absorvido pelo organismo de forma eficiente. Sabe-se, por exemplo, que a ingestão de alimentos ricos em zinco e ferro reduz a eficácia do aproveitamento do cálcio, pois estes dois minerais têm mecanismos fisiológicos de assimilação semelhantes no organismo humano. Dizemos então que cálcio e zinco são “antagonistas”. Eles competem pela absorção e comprometem a disponibilidade um do outro. O mesmo ocorre com o ácido oxálico presente em vegetais de cor verde-escura: esta substância contida no espinafre, na couve, no agrião e na taioba, por exemplo, tem altíssima afinidade com o cálcio e, se ligando a ele, forma sais de oxalato de cálcio posteriormente expelidos pela urina. As famosas pedras nos rins nada mais são que acúmulos de oxalato de cálcio. Alimentos como morango e chocolate, por sua vez, comumente combinados ao leite (aliás, maravilhosa combinação!), infelizmente também são ricos nesta substância. Evite, portanto, combiná-los com frequência.
Outros fatores antagonistas à boa absorção de cálcio são os excessos de cafeína (a famosa combinação “café com leite” é uma péssima pedida na prevenção da osteoporose), de proteína – a proteína em excesso acidifica o pH da urina e induz o cálcio a tentar neutralizá-lo – e de sódio – a eliminação do sódio pela urina carrega quantidades razoáveis de cálcio, levando, praticamente, ao seu desperdício.
Repare que apenas o fator “consumo” não é suficiente para garantir a boa manutenção da massa óssea. Muitos pacientes com osteoporose alegam ter consumido leite e derivados em altas quantidades pela vida toda e se questionam porque, mesmo assim, desenvolvem a doença. Esteja atento, portanto, às combinações dos alimentos no seu dia-a-dia. É importante destacar que níveis regulares das vitaminas D e K são essenciais na retenção do mineral.
Você pode também consumir sua fonte de cálcio antes de dormir. Durante o sono, liberamos um hormônio chamado calcitonina, regulador do nível sanguíneo deste mineral. A absorção óssea, com isto, fica mais eficiente. Adicionar um suplemento de cálcio associado à vitamina D na última refeição do dia é uma medida nutricional simples e inteligente!
Fico por aqui e desejo a todos uma excelente semana. Até a próxima postagem!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ovo de metro?

É isso mesmo! A tecnologia de alimentos está chegando longe e, desta vez, os japoneses inventaram um ovo cozido de metro que pode ser cortado em fatias e comido da mesma forma que os embutidos. Fiquei tão surpresa com essa novidade que resolvi compartilhar a notícia junto com meu texto sobre a qualidade nutricional deste produto.
Os benefícios do alimento vão desde o seu baixo custo até a possibilidade de substituição das carnes em pessoas intolerantes à ingestão da mesma.
Na dietética, temos um valor conhecido como NPU ou net protein utilization (proteína líquida utilizada), usado para mensurar a quantidade aproximada de proteína que é absorvida e utilizada pelo nosso organismo em uma determinada porção de alimento. O NPU é um indicador da qualidade protéica: quanto maior o seu valor, menor a porcentagem descartada pelo organismo e melhor a classificação do valor nutricional daquela proteína.
Para se ter uma idéia, enquanto o NPU de cereais é de apenas 50%, passando pelos 70% das carnes, o ovo apresenta NPU equivalente a 100%. Ou seja, ele é o único alimento cuja absorção protéica é praticamente completa. Maravilha, não? Vale destacar que este alimento é indicado principalmente para dietas de ganho de peso, já que é facilmente introduzido no cardápio e apenas uma unidade já traz a colaboração energética de até 80 calorias.
Seguem abaixo mais informações sobre o perfil biológico e nutricional deste alimento. Espero que gostem!


O valor nutricional do ovo

A dieta do praticante de musculação tem como um dos principais elementos proteicos o ovo. Este alimento é divulgado tanto pela sua alta biodisponibilidade de nutrientes quanto pela abundância de proteína de alto valor biológico que ele apresenta, tendo valor numérico equivalente a 100 na escala de qualidade proteica pela presença de todos os aminoácidos essenciais em quantidades adequadas a quem busca manutenção e ganho de massa magra.
Um ovo inteiro contém em média seis gramas de proteína. A albumina em pó, obtida por processo de atomização ou liofilização em indústria (separação das moléculas de água dos demais nutrientes), tem cerca de 11 gramas de proteína por colher de sopa.
O ovo é composto por 76% de água, 13% de proteína, 1% de sais minerais (sendo os mais abundantes cálcio, ferro e enxofre), 10% de lipídeos, colesterol, algumas vitaminas e fosfolipídeos, dentre os quais a lecitina, conhecida por auxiliar na diminuição dos valores de colesterol plasmático.
        A casca é composta por carbonato de cálcio e de magnésio, fibras proteicas e colágeno. Embora abundante, não se sabe ainda se o cálcio presente nessa região é disponível para absorção. Descarta-se, com isso, a possibilidade de consumo da casca do ovo como fonte deste mineral.
A clara do ovo ou albúmen, preferida como fonte proteica para atletas, é uma solução aquosa de proteínas. Sua coloração amarelada ou esverdeada indica maiores concentrações de riboflavina (vitamina B2). Dentre as proteínas presentes na clara, podem-se destacar as seguintes:


- Lisozima: inibidora da proliferação de bactérias
- Ovotransferrina: ligante do ferro. Inibe a proliferação de microorganismos que crescem na presença deste micronutriente.
- Ovoalbumina: fosfoglicoproteína constituída de lisina e triptofano. Contém também enxofre bioativo.
- Ovomucóide: glicoproteína inibidora da tripsina (enzima secretada pelo pâncreas para atuação na quebra proteica).
- Ovomucina: Sofre interação com a vitamina B3, impedindo a absorção da mesma pelo trato gastrointestinal. Comprovou-se que mesmo com a pasteurização da clara de ovo (processo industrial da fabricação de ''albumina em pó''), a ovomucina não é desativada, mas apenas se torna inativa por submissão a altas temperaturas. Alta ingestão de clara de ovo crua ou albumina em pó reduzem, com isto, os níveis desta vitamina no organismo.

Por fim, a gema do ovo é composta 34% de gordura, 16% de proteína e 50% de água. Sua cor amarelada se dá devido ao seu alto teor de gordura e carotenóide, pigmento amarelado convertido em vitamina A após a ingestão. As gemas de ovos caipiras, por serem mais ricas em ferro, apresentam coloração mais escura.
Por muito tempo acreditou-se na influência da gema sobre os níveis de colesterol, já que ela é rica neste componente. Hoje já se sabe que o colesterol plasmático é controlado não pela sua ingestão, uma vez que seu mecanismo é compensatório (o que equivale a dizer que quanto menor a ingestão, maior a síntese pelo fígado), mas pela quantidade e qualidade de gordura na dieta. As quantidades de gordura saturada e insaturada no ovo são equilibradas, mostrando que sua influência no aparecimento de hipercolesterolemia é praticamente nula.
Para a conservação do ovo, seu armazenamento deve ser feito em local seco e em baixas temperaturas (portanto na parte baixa do refrigerador, e não no topo, como muitos pensam). Não se deve lavar o ovo antes do armazenamento, uma vez que o procedimento leva à migração de microorganismos da casca para o interior do alimento.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A dieta antiestrogênica - Parte 1

Olá, leitores! Essa semana está sendo corrida. Muito trabalho, muitas notas da faculdade pra fechar, e como consequência noites mal dormidas. Mesmo assim, não esqueci meu blog! Percebi que as visitas aumentaram bastante nesses últimos dias e queria agradecer a todo mundo que lê minhas postagens e, dessa forma, participa da minha vida de forma tão especial.
Hoje separei um texto interessante pra mostrar pra vocês. Já perceberam que uma das grandes preocupações dos atletas de fisiculturismo é controlar a quantidade de estrogênio do organismo? Esse hormônio, apesar de desempenhar uma série de funções, como a manutenção da massa óssea, também pode causar retenção líquida, acúmulo de gordura e ginecomastia quando em excesso.
Atualmente o cuidado com os níveis de estrogênio é assunto de uma série de pesquisas, pois a dieta moderna e o ambiente em que vivemos hoje favorecem o aumento dos níveis desse hormônio.
Pensando nisso, o americano Ori Hofmekler escreveu um livro sobre como evitar, por meio do controle alimentar, que os níveis hormonais permaneçam altos e causem prejuízos estéticos e fisiológicos aos indivíduos. Infelizmente o livro ainda não está disponível em português, mas li alguns trechos dele em inglês e me encantei com o tanto de novidades que a nutrição vem trazendo na área de nutriterapia (essa expressão designa a capacidade que os alimentos têm de trazer benefícios não apenas nutricionais, mas que auxiliem na cura e no tratamento de desvios metabólicos) e, desta forma, elaborei um texto que contém algumas informações importantes do livro do Dr. Ori. Aí vai! 

Grande beijo e voltem sempre!

A dieta antiestrogênica - Parte 2

Há alguns anos, pesquisas são desenvolvidas com a intenção de desenvolver uma dieta que reduza os níveis de estrogênio no organismo humano e evite seus excessos. Em ambos os sexos, quantidades excessivas deste hormônio levam ao acúmulo de gordura corporal, o que causa prejuízo estético principalmente para praticantes de musculação que visam ao ganho de massa muscular com qualidade. Além disto, a tão temida ginecomastia, caracterizada pelo aumento do tecido mamário, é uma das conseqüências do aumento de estrogênios no homem, processo muitas vezes causado pela utilização de hormônios sintéticos facilmente convertidos em estrógeno pela enzima aromatase.

Alguns dos alimentos naturalmente ricos no chamado “hormônio vegetal feminino” têm efeitos semelhantes aos causados pelo estrógeno do nosso organismo. Eles contêm em sua estrutura moléculas com formato e atividade similar ao estrogênio, conhecidas por fitoestrógenos. Alguns desses compostos são a isoflavona da soja e a lignina da linhaça em grão, presente em maior concentração na linhaça dourada.

Na agricultura, a existência de estrógenos vegetais foi detectada em 1920 e desde então mais de 2 mil tipos têm sido encontrados, dentre os quais alguns apresentam potente atividade estrogênica. Verificou-se que o uso de estrogênios sintéticos em plantas promove floração e inibe o crescimento da raiz, enquanto a utilização de derivados sintéticos de testosterona favorece a elongação radicular, polinização e germinação.  O grande problema desde então é o desequilíbrio entre a quantidade destes dois compostos na nossa alimentação, que pende para um consumo exagerado de substâncias artificiais estrogênicas. Os animais que comemos têm sido amplamente feminilizados pelas plantas que consomem – e que, por sua vez, também são consumidas por nós – lotadas de adubos e agentes químicos predominantemente femininos.

Além disso, verifica-se que a poluição, alguns cosméticos e produtos de limpeza trazem consigo o chamado estrogênio ambiental. “Estamos expostos a 15 vezes mais estrogênio do que estávamos há cem anos. Isso dificulta a perda de peso”, diz o americano Ori Hofmekler, autor do livro “A Dieta Antiestrogênica”.

Diante disso, como combater ou amenizar tais efeitos em nosso organismo? Pesquisas em laboratório analisaram diferentes tipos de alimentos e descobriram suas propriedades específicas, elaborando então a famosa dieta antiestrogênica, aplicada principalmente a pacientes com alto percentual de gordura.

Certos alimentos têm mostrado grande eficácia no aumento de testosterona, força e vitalidade. Evidentemente, os fitoandrógenos, hormônios vegetais masculinos presentes nestas plantas, atingem concentrações máximas durante a polinização e caem rapidamente em seguida. Além disso, o germe de cereais é uma grande fonte de vitamina E e cofatores nutricionais que ocorrem naturalmente no seu componente de gordura, importantes para a manutenção da saúde do aparelho reprodutor.

Algumas substâncias têm demonstrado a capacidade de equilibrar estrogênio no organismo por inibir sua formação ou pela modulação do metabolismo. Estas se encontram em brócolis, couves, óleos ricos em ômega-3, nozes e sementes (a gordura insaturada presente em altas concentrações nas oleaginosas auxilia na formação de progesterona, que por sua vez neutraliza o estrógeno), açafrão (pela presença do composto curcumina), alho e cebola (ricos nos compostos alicina e quercetina), laranja, salsão, ginseng, pólen de abelha, frutas vermelhas e todos os verdes.

Outras substâncias, por sua vez, demonstraram inibir o estrógeno por meio do bloqueio da enzima aromatase. Estas incluem flavonóides do maracujá, apigenina e crisina da camomila e indóis do repolho.

Existe também uma co-relação positiva entre a saúde dos rins e do fígado e a atividade do hormônio sexual masculino. Torna-se evidentemente claro que os níveis de testosterona livre caem quando o fígado está carregado com toxinas. Estas, por sua vez, promovem um processo que desativa a testosterona livre por meio da sua ligação com as chamadas globulinas ligantes do hormônio sexual (SHBG). Além disto, a toxicidade aumenta os nossos níveis de estrogênio e cortisol, o que também acelera o envelhecimento e o estresse.

Alimentos como couve, agrião, couve-de-bruxelas, repolho, couve-flor, nabo e brócolis, todos conhecidos como vegetais crucíferos, têm a capacidade de promover uma limpeza hepática, varrendo certas toxinas do nosso organismo. Tudo isto graças à presença de enxofre e glicosinolatos. Estes últimos, por sua vez, previnem também o câncer de próstata, segundo estudos feitos pelo pesquisador Richard B. Hayes, do Instituto Nacional do Câncer nos EUA. O consumo destes vegetais, com isto, é uma estratégia eficiente para manter sua saúde hepática em dia.

Mais uma vez os alimentos assumem papel medicinal, colaborando para a prevenção de diversas patologias e para o equilíbrio hormonal. A dieta anti-estrogênica, portanto, constitui um exemplo de como, diante de tantos estudos na área da nutriterapia, hoje temos a opção de moldar nosso cardápio conforme nossas necessidades específicas de saúde e bem-estar.


Bibliografia consultada:
A Dieta Antiestrogênica - Ori Hofmekler

sábado, 29 de janeiro de 2011

Whey protein - Parte 1





O whey protein tem adquirido cada vez mais popularidade entre atletas. Pessoas não envolvidas com o meio esportivo e até mesmo praticantes de atividades físicas, muitas vezes, porém, ficam receosos em adicionar esse suplemento à sua rotina, com medo de que ele apresente efeitos colaterais, dos quais o mais temido é a sobrecarga renal. Tenho visto muitos nutricionistas não-esportivos banirem o whey protein do cardápio de pessoas comuns e atletas, o que me levou a pesquisar muito a respeito e tentar, de uma forma simples e clara, apresentar esse suplemento aos leitores do meu blog e desmitificar a proibição de uma substância tão benéfica à saúde humana pelos profissionais que mais deveriam apoiar seu consumo: os nutricionistas.
Apresento-lhes então, antes de qualquer coisa, o perfil tecnológico do leite, que é a fonte de extração do nosso whey protein. O leite é constituído, resumidamente, por duas classes de proteínas: as caseínas, que constituem até 80% do total de proteínas presentes no alimento, e as soro proteínas, responsáveis por aproximadamente 20% da sua composição proteica. O que ocorre é que, na fabricação dos queijos, na qual ocorre basicamente a coagulação das caseínas presentes no leite (elas ficam mais "juntinhas", formando o que chamamos de micelas e adquirindo aspecto firme), o soro do leite se separa dessa solução proteica presente no alimento. Você já viu aquele líquido meio amarelado que "sai" do queijo quando ele fica pronto? Esse é o soro do leite. Ele é de aspecto amarelo-esverdeado, já que é muito rico em riboflavina (vitamina B2), que é a principal responsável por essa coloração. Na fabricação de 1 Kg de queijo, 9 Kg de soro são gerados.
Quando descartado sem tratamento prévio, o soro do leite se torna um forte agente de poluição ambiental. Pensando nisso e visando lucro, a indústria alimentícia logo desenvolveu inúmeras aplicações tecnológicas do soro nos alimentos. Como é de baixo custo, ele substitui outros ingredientes lácteos na elaboração de sorvetes, bolos, biscoitos e iogurtes, favorecendo assim o lucro das empresas de alimentos sem nenhum prejuízo sensorial no produto final. Panificados contendo soro proteico são beneficiados com maior quantidade de cálcio e proteínas, além de adquirirem maciez.
A famosa ricota, popularmente conhecida como um tipo de "queijo", é obtida a partir do soro do leite. Uso a expressão "queijo", entre aspas porque todo produto não-obtido da caseína não pode, cientificamente, ser identificado como queijo. A ricota, portanto, recebe assim a denominação mais adequada de "produto lácteo" pela indústria alimentícia.
Agora que você sabe a origem tecnológica deste concentrado proteico, deve estar se perguntando qual é a vantagem do seu consumo em relação às outras proteínas, certo? Se um indivíduo consome carnes, ovos e lácteos e tem seu aporte proteico diário adequado, será que a ingestão do whey protein pode causar um excesso na dieta dele? Ele não seria simplesmente excretado do organismo? Muitos estudiosos tradicionais diriam sim a todas essas questões. Porém, estudos envolvendo a proteína do soro e seus efeitos no organismo humano garantem que não é bem assim.
A primeira característica que atrai a atenção de desportistas é a alta digestibilidade dessa proteína. Isto significa que grande parte dela é aproveitada pelo organismo, ao contrário das proteínas aprisionadas em alimentos, cujo aproveitamento é inferior e grande parte é excretada do organismo. Essa propriedade foi aproveitada pela agroindústria para produzir ração animal adicionando soro proteico do leite no lugar de outras proteínas de menor digestibilidade. O resultado foi a redução no volume das fezes do animal, diminuindo o número de higienizações diárias necessárias na localidade. Além disso, rações enriquecidas com o soro do leite facilitaram o ganho de peso nos animais.
O whey protein também tem a vantagem de ser mais rapidamente absorvido pelo organismo, pois, ao contrário de todas as demais proteínas, ele pula a etapa de digestão no estômago e é diretamente absorvido no intestino delgado, como foi mostrado num estudo publicado pelo American Journal of Clinical Nutrition em 1996. Isso significa que a sua absorção pelo tecido muscular e todos os demais tecidos é quase imediata e ele é rapidamente usado como anticatabólico no músculo (evita a "quebra" desse tecido com finalidade de geração de energia).
Concluímos então, a partir de tudo que foi citado até aqui, que a excreção da proteína do soro pelo organismo é praticamente nula. A sua ingestão, mesmo que em altas quantidades, não gera substratos decorrentes da decomposição da proteína ingerida em excesso, sendo incapaz de causar dano algum à saúde dos rins. O whey protein, inclusive, é utilizado na formulação de hidrolisados protéicos para pacientes com várias síndromes de má absorção intestinal e com intolerância as proteínas do leite, para idosos e para pacientes fenilcetonúricos. Sua aplicação clínica é um campo de estudo em expansão e fascina diversos profissionais que lidam diariamente com dietas restritivas e com pacientes com má assimilação proteica.
Espero, através deste texto, contribuir para a conscientização de profissionais da saúde e pessoas que buscam qualidade de vida, trazendo mais informações sobre o resíduo industrial que se tornou uma importante contribuição não só na performance de atletas, mas na prevenção e promoção da saúde em geral tanto em pacientes hospitalares como em indivíduos comuns.
Siga lendo sobre a evolução da descoberta do soro do leite e suas propriedades funcionais no texto abaixo.

Obrigada pela visita de todos vocês!