sábado, 29 de janeiro de 2011

Whey protein - Parte 1





O whey protein tem adquirido cada vez mais popularidade entre atletas. Pessoas não envolvidas com o meio esportivo e até mesmo praticantes de atividades físicas, muitas vezes, porém, ficam receosos em adicionar esse suplemento à sua rotina, com medo de que ele apresente efeitos colaterais, dos quais o mais temido é a sobrecarga renal. Tenho visto muitos nutricionistas não-esportivos banirem o whey protein do cardápio de pessoas comuns e atletas, o que me levou a pesquisar muito a respeito e tentar, de uma forma simples e clara, apresentar esse suplemento aos leitores do meu blog e desmitificar a proibição de uma substância tão benéfica à saúde humana pelos profissionais que mais deveriam apoiar seu consumo: os nutricionistas.
Apresento-lhes então, antes de qualquer coisa, o perfil tecnológico do leite, que é a fonte de extração do nosso whey protein. O leite é constituído, resumidamente, por duas classes de proteínas: as caseínas, que constituem até 80% do total de proteínas presentes no alimento, e as soro proteínas, responsáveis por aproximadamente 20% da sua composição proteica. O que ocorre é que, na fabricação dos queijos, na qual ocorre basicamente a coagulação das caseínas presentes no leite (elas ficam mais "juntinhas", formando o que chamamos de micelas e adquirindo aspecto firme), o soro do leite se separa dessa solução proteica presente no alimento. Você já viu aquele líquido meio amarelado que "sai" do queijo quando ele fica pronto? Esse é o soro do leite. Ele é de aspecto amarelo-esverdeado, já que é muito rico em riboflavina (vitamina B2), que é a principal responsável por essa coloração. Na fabricação de 1 Kg de queijo, 9 Kg de soro são gerados.
Quando descartado sem tratamento prévio, o soro do leite se torna um forte agente de poluição ambiental. Pensando nisso e visando lucro, a indústria alimentícia logo desenvolveu inúmeras aplicações tecnológicas do soro nos alimentos. Como é de baixo custo, ele substitui outros ingredientes lácteos na elaboração de sorvetes, bolos, biscoitos e iogurtes, favorecendo assim o lucro das empresas de alimentos sem nenhum prejuízo sensorial no produto final. Panificados contendo soro proteico são beneficiados com maior quantidade de cálcio e proteínas, além de adquirirem maciez.
A famosa ricota, popularmente conhecida como um tipo de "queijo", é obtida a partir do soro do leite. Uso a expressão "queijo", entre aspas porque todo produto não-obtido da caseína não pode, cientificamente, ser identificado como queijo. A ricota, portanto, recebe assim a denominação mais adequada de "produto lácteo" pela indústria alimentícia.
Agora que você sabe a origem tecnológica deste concentrado proteico, deve estar se perguntando qual é a vantagem do seu consumo em relação às outras proteínas, certo? Se um indivíduo consome carnes, ovos e lácteos e tem seu aporte proteico diário adequado, será que a ingestão do whey protein pode causar um excesso na dieta dele? Ele não seria simplesmente excretado do organismo? Muitos estudiosos tradicionais diriam sim a todas essas questões. Porém, estudos envolvendo a proteína do soro e seus efeitos no organismo humano garantem que não é bem assim.
A primeira característica que atrai a atenção de desportistas é a alta digestibilidade dessa proteína. Isto significa que grande parte dela é aproveitada pelo organismo, ao contrário das proteínas aprisionadas em alimentos, cujo aproveitamento é inferior e grande parte é excretada do organismo. Essa propriedade foi aproveitada pela agroindústria para produzir ração animal adicionando soro proteico do leite no lugar de outras proteínas de menor digestibilidade. O resultado foi a redução no volume das fezes do animal, diminuindo o número de higienizações diárias necessárias na localidade. Além disso, rações enriquecidas com o soro do leite facilitaram o ganho de peso nos animais.
O whey protein também tem a vantagem de ser mais rapidamente absorvido pelo organismo, pois, ao contrário de todas as demais proteínas, ele pula a etapa de digestão no estômago e é diretamente absorvido no intestino delgado, como foi mostrado num estudo publicado pelo American Journal of Clinical Nutrition em 1996. Isso significa que a sua absorção pelo tecido muscular e todos os demais tecidos é quase imediata e ele é rapidamente usado como anticatabólico no músculo (evita a "quebra" desse tecido com finalidade de geração de energia).
Concluímos então, a partir de tudo que foi citado até aqui, que a excreção da proteína do soro pelo organismo é praticamente nula. A sua ingestão, mesmo que em altas quantidades, não gera substratos decorrentes da decomposição da proteína ingerida em excesso, sendo incapaz de causar dano algum à saúde dos rins. O whey protein, inclusive, é utilizado na formulação de hidrolisados protéicos para pacientes com várias síndromes de má absorção intestinal e com intolerância as proteínas do leite, para idosos e para pacientes fenilcetonúricos. Sua aplicação clínica é um campo de estudo em expansão e fascina diversos profissionais que lidam diariamente com dietas restritivas e com pacientes com má assimilação proteica.
Espero, através deste texto, contribuir para a conscientização de profissionais da saúde e pessoas que buscam qualidade de vida, trazendo mais informações sobre o resíduo industrial que se tornou uma importante contribuição não só na performance de atletas, mas na prevenção e promoção da saúde em geral tanto em pacientes hospitalares como em indivíduos comuns.
Siga lendo sobre a evolução da descoberta do soro do leite e suas propriedades funcionais no texto abaixo.

Obrigada pela visita de todos vocês!

Um comentário:

  1. Ótimo esclarecimento!!!
    É MUITO FÁCIL SE NEGAR Á ALGO QUE DESCONHECIDO!!!

    ResponderExcluir